Quem poderia bater o jamaicano Usain Bolt? A resposta, que tanto tardou, chega-nos pelo nome de Allyson Felix.
Aos 33 anos, e apenas dez meses depois de ser mãe, Allyson Felix bateu o recorde de estafetas de 4×400 metros, até então detido por Usain Bolt com 11 medalhas.
A atleta conseguiu conquistar 12 medalhas de ouro em campeonatos mundiais de atletismo. A 12ª segunda medalha foi obtida nesta terça-feira, 2, na prova de estafetas de 4×400 metros com a equipa dos Estados Unidos nos Mundiais de Doha (capital do Qatar). O anterior recorde, pertencia ao considerado “Homem mais rápido do mundo” Usain Bolt, que era de 11 medalhas de ouro em campeonatos do mundo de atletismo e mantinha-se intacto desde 2013.
Para Allyson esta vitória teve um significado especial, não só por ser uma mulher a bater o recorde de um homem mas pelo facto de ter conseguido alcançar tal objectivo dez meses depois de ter sido mãe. “É tão especial, ter a minha a filha a assistir significa tudo para para mim. Tem sido um ano de loucos. Tudo o que passei ao longo deste ano… é muito maior do que eu”, disse Allyson no final da corrida.
O parto não foi fácil devido ao estado de pré-eclampsia (tensão arterial alta). A mãe e bebé sofriam risco de vida e os médicos decidiram fazer uma cesariana de urgência às 32 semanas de gravidez. Mas isso só fortaleceu a altleta que voltou às competições em julho. Allyson, na altura, afirmou à revista People que “é diferente, é definitivamente mais desafiante. Penso que qualquer nova mãe quando volta ao trabalho sente-se exausta e tem de conciliar isso com a família. Para mim não é diferente.”
Desde o seu regresso que tem lutado de forma constante pelos direitos de todas as atletas femininas que, geralmente, não recebem qualquer pagamento ou recebem menos durante ou após a gravidez. A Nike sentiu-se obrigada a mudar a sua política de patrocínios e deixou de discriminar as mulheres que são mães, tudo graças à luta de Allyson que fincou o pé pela sua causa.
Felix explicou em maio ao New York Times que decidiu “começar uma família em 2018, sabendo que a gravidez podia ser ‘o beijo da morte’. “Foi terrível para mim porque estava a negociar o meu contrato com a Nike, que tinha terminado em dezembro de 2017”. “Fui pressionada para voltar a estar em forma o mais rapidamente possível depois do nascimento da minha filha, em novembro de 2018, apesar de ter passado por uma cesariana de emergência às 32 semanas, devido ao sério risco de a pré-eclampsia ameaçar a minha vida e da minha bebé. No entanto, as negociações não estavam a correr bem. Apesar de todas as minhas vitórias, a Nike queria pagar-me menos 70% do que antes. Se for isso que eles pensam que eu valho agora, eu aceito. O que eu não posso aceitar é este persistente status quo da maternidade. Pedi à Nike para garantir, contratualmente, que não seria penalizada se os meus resultados não fossem os melhores nos primeiros meses após o parto. Queria estabelecer um novo padrão. Se eu, uma das atletas da Nike mais conhecidas, não conseguisse assegurar estas proteções, quem conseguiria?”
No mesmo mês, a Nike anunciou que não aplicaria reduções de pagamento às atletas grávidas por um período de 12 meses. Depois, em setembro, a empresa alargou esse período para 18 meses – oito meses antes da data prevista do parto. Mas, não foi o suficiente para manter Allyson Felix, que, entretanto, acabou por assinar um contrato com a Athleta.
A jamaicana Fraser-Pryce, no mesmo dia, em Doha, ganhou a medalha de ouro dos 100 metros e festejou com o seu filho de dois anos. E Allyson não podia ficar mais satisfeita e comentou que “o que ela fez foi incrível. Ela também teve um caminho difícil até aqui. E encoraja-me imenso. O seu primeiro ano não foi o melhor, mas no segundo ano está melhor do que nunca. As mulheres são fantásticas e ela está a abrir-nos caminho.”
Em várias entrevistas dada pela atleta Pryce a mesma mostrou e disse que se sentia devastada quando descobriu que estava grávida porque temeu pelo fim da sua carreira. E que muitas foram as pessoas que pediram para que a mesma desistisse de praticar e competir. Mas o amor falou mais alto, quis continuar a correr e a ganhar.
“Foi muito especial. “Tem sido um ano de loucos e sinto-me abençoada só pelo facto de estar aqui a correr com esta equipa fantástica. Estou agradecida por ter saúde e por estar de volta ao trabalho. É uma sensação muito boa”, concluiu Allyson Felix após a corrida onde bateu o recorde de Usain Bolt.
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